segunda-feira, 31 de maio de 2010

O BÚFALO

para Paulo

O búfalo, animal interessante
tão grande que assusta
negro, peludo, enormes chifres
grave mugido, tensão
Ah! Mas tem olhos tão delicados
que ao vê-los mostra-se toda beleza da vida.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

CANTORIA

Cantoria tão bela que mais parecia a paz
Elomar entoando uma louvação
Como mágica uma moça passava sobre as cabeças
Em um teleférico particular, bruxa e anjo
Mais acima, um avião atravessava os céus
(achei que fossem se chocar).
Fiquei pensando, embalado pela música:
Havia algo acima de nós todos, naquele instante?

quinta-feira, 20 de maio de 2010

O GRITO

Para Edvard Munch

Do peito heróico dos cavaleiros iluminados
retumba, indomável e imponente, o brado,
regurgitado dos anseios, dos subterrâneos,
por aqueles soterrados pela vileza da história.

Canto lírico de força astral e incontrolável,
subverte, pelo poder de sua sutileza angelical,
o estado de ignomínia da ordem universal,
derrubando todas as leis da física de Newton,
e os monumentos da arquitetura neoclássica.

Impele, sobre montes infindáveis de sujeira
e lama, por sobre todo o asco da degradação,
multidões com flores rojas, empunhadas contra
senhores gélidos e arenosos. Flores solenes.

Aí, no deserto dos corações ressentidos se
porá, como no milagre da ressurreição de
Lázaro, uma enchente avassaladora de si.
E de belezas tantas que toda arte se curvará.
(ainda é manhã, cedo, na aurora dos tempos).

Um cigarro em um momento de profunda reflexão ou necessidade

o
fósforo
risca
a
faísca
que ascende

o
cigarro
acende
e
rescende,
logo ratifica,

a
brasa,
que arde
na
tarde –
(dormente) –

e a
fumaça
quente
do
presente,
(que ressente

o
gosto
doce
que
foi-se,
ou retirou-se).

a
alma, o
desafago
e o
trago
(amargo).

O etéreo pesar do ar,

a
gritar,
em
    franco
    desespero:
 – fósforos,
    por
        favor
!
Andando ao léu
               O sol no apogeu
Você me apareceu
              Irrefletida no céu

Sidnei Magal e a virada cultural

Ô Magal, pega a minha mãe! gritou o rapaz no início do show do Sidnei, já no início da madrugada. Enquanto eu ria, a pessoa que vinha com o rapaz, como que justificando disse: “Já pensou ter um pai firmeza assim?” De pronto pensei que finalmente encontrara o mote perfeito para essa crônica. A pretensão inicial, de tentar definir o que é a virada, certamente não se concretizará.  Mas a frase inesperada, com tanta gente tão diferente se divertindo – desde os filhos de pais meio ricos e meio de esquerda até a moça da periferia que caiu sobre mim ao tentar subir nos ombros do namorado, passando pela desconhecida que meu conhecido flertava, por mim e pela bela que me acompanhava – naquele momento se fez como máxima determinatio.
A apresentação, feita por Rita Cadillac, seguida pela bombástica "O meu sangue ferve por você", foi tão violentamente popular que arrastou o Largo do Arouche em êxtase. A forma particular da mistura que marca a cidade, com suas situações típicas e as diferenças  sociais tão profundas, encontrou ali uma maneira especial de se manifestar. Não que essas diferenças sumissem ou mesmo se amenizassem. Outras coisas tem que acontecer para encerrar a luta de classes. Mas o que me impressionou foi o domínio popular alcançado por instantes. É das coisas que mais me agrada na virada: o povo da cidade se apropriando do que é seu, mas é constantemente negado.
Porque a virada, que só poderia acontecer na gigante São Paulo, terra da garoa certa, da esperança incerta, do trabalho, incessante - principalmente do povo pobre, em constante luta pela sobrevivência e pela felicidade - tem a mágica capacidade de fazer da cidade, ao menos por 24h, um lugar de alegria. Claro que isso não é uma crítica de arte, tampouco uma análise política. Tem mais a ver com uma impressão sobre a natureza da cidade e das pessoas, sobre uma multidão que só poderia se reunir, desse jeito, na maior cidade do hemisfério sul, com suas quase 17 milhões de almas, em uma cidade que é enorme também em sua diversidade. E acontece principalmente no sua bela região central - Ah! mas tão abandonada que o amante da descuidada Iracema teria um motivo a mais de lamento. A virada me mostrou que a dureza é muita, mas a vontade de superá-la também é maior ainda. E quando transborda, mesmo ao som do Sidnei Magal, arrasta a multidão.

PS: Depois escrevo sobre a Cantoria, tão bela que me pareceu a paz.
Te amo tanto que nem cabe em mim
Talvez por isso eu chore
lágrimas obtusas que quicam nas arestas de minha alma.

Sou muito feliz por causa disso
Já que o amor é a melhor de todas as coisas
Ainda que olhando pra trás veja somente o rastro de um furacão.
 
Sou ao mesmo tempo como um poço
cheio de saudades, diferentes entre si
mas tampado pelo mesma angústia de concreto que me sufoca.
 
Viver é um grande trabalho
uma busca incessante por sentido e pertença
cujo significado encerra erros e alegrias na mesma existência turva. 
 
Só me resta escrever coisas
Sobre, contra e a favor do amor
única realidade que conheço, que me despedaça enquanto tento juntar.

Iniciando a vida de blogueiro

Olá a todas e todos!
Inicio agora minha vida de blogueiro com essa modesta página. Espero que gostem do que publicarei aqui. Um pouco de literatura, minha e de outros, famosos e anônimos, desde que me encantem. Poesia e prosa. Um pouco de política, buscando ajudar na construção de um outro mundo, mais justo e belo - socialista! E algumas bobagens, pra diversão minha e, espero, de quem ler. Desde futebol até curiosidades, passando por quadrinhos e sugestões de programas culturais.
Beijos