quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Toleima e Tolima

Toleima é sinônimo de tolice. Lembrei-me dessa palavra, meio arcaica, que só vi sendo usada por João Guimarães Rosa, pensando no time colombiano que o Corinthians enfrentará hoje, o Tolima. Não é qualquer tutaméia o jogo de que se trata (tutaméia é o título de um livro do mesmo escritor, e significa coisa pequena, sem importância, bobagem). Pelo contrário, depois de um sofrido empate aqui em São Paulo, onde o time jogou um futebol apático e insuficiente, a partida de volta assume contornos épicos, como só a literatura ou o futebol podem oferecer à humanidade.
O Corinthians conta com uma boa equipe, liderada por Ronaldo, espécie de herói que parece ter feito algum trato com o diabo, que lhe trouxe enorme habilidade e, sobretudo, imensa capacidade de superação. É a maior esperança de uma nação de religiosos, como foram aqueles que viveram em Canudos. O Tolima conta, por sua vez, com a força dos índios colombianos e com a fraqueza dos últimos resultados do Corinthians. Tem um bom centro avante, Wilder Medina, mas em geral um time mediano. Só que jogará em casa, em um gramado (ruim, por sinal) que já foi cemitério. Como as veredas mortas. Futebol é quase literatura.
Depois do centenário onde nada conquistou, uma derrota precoce na Libertadores, tão esperada pela Fiel, seria uma verdadeira tragédia, como a morte de Diadorim. A vitória, de sua parte, significaria o início da travessia. Time pra tanto o Corinthians tem. Só falta agora deixar de toleima e jogar bola. Não que a zebra esteja ausente – o sertão está em todas as partes. Para vencer, não basta um time bem montado e figuras de renome. É preciso colocar o coração na ponta da chuteira e enfrentar Hermógenes. Como canta a torcida, tem que jogar com raça e com coração, pois é o time do povo, o coringão. Literatura, meu senhor, é quase futebol.