terça-feira, 23 de agosto de 2011

Unicórnio Azul


Com Ceci

Afasto-me de ti, como Ulisses
Só pra que minha saudade fique maior
me consuma e me renove

Então, monto em meu unicórnio
azul de esperança, arisco de liberdade
E saio a buscar o mito de sua figura

Quando acabarei  com a falta
beijarei minha única heroína
e me entupirei de cores e paixão



terça-feira, 16 de agosto de 2011

Mulher amarela

Não só para Chagall

A metáfora incomum
a mágica beleza plástica
pura e forte
Ascendência russa, áurea, lívia
O deslumbre total no que se vê
E, ainda mais, no que esconde.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Lâminas árabes

Sua língua é morena como uma cimitarra.
Me despedaça, desde os idos de Moisés,
em Êxodo: desde o Holocausto.

Na espessura da lâmina,
o peso dos séculos se coloca.
No seu desenho, Lúcifer se reflete.
Um brilho vermelho se põe, logo,
como no crepúsculo ensangüentado,
como se meu peito estivesse escancarado.

Na profundidade do teu corpo,
do teu sexo pagão e sacrossanto,
nenhum peso se impõe. Minha mão,
acaricia com força tuas costas.
Ainda que não saibas, não me escapas.
A lâmina é polida, e nela vejo, de soslaio,
nós nos amando. A imagem se foi?

Hefesto forjou a espada, com ossos,
fervendo-os em sangue humano.
Assim, a morte persegue a lâmina,
como a sombra persegue o dia,
e o silêncio, a poesia. Mas ainda falamos,
e vivemos. E eu ainda amo...

Seu cabo é azul, com detalhes em verde.
É de boa empunhadura, firme,
justa como cintura de menina.
Menina que, por sua vez, lembra uma formiga,
pela força colossal e pela exatidão matemática.
(a espada, a menina e a formiga:
o poder, a beleza e a labuta,
a poesia, a poesia, e a poesia).

Mosaicos eternos enfeitam a arma branca,
em traçados opressores que a controlam.
Na forma feminina, tua força e tua beleza.
Tua cintura, fina, tem um rebolado doce,
quando corta o ar em direção a um corpo,
como quadris sutis que estraçalham corações,
enquanto dançam passos já esquecidos.

Na ponta o bico de uma ave de rapina,
pois o peso dos séculos a envergou,
em forma elegante e fatal: o brilho da precisão.
Nessa ponta, o anseio do beijo,
e o medo da solidão. Não da morte.

Eu não existo!
Todos os meus antepassados foram retalhados
pela cimitarra que os acariciava,
ao som de cânticos sagrados e inumanos.
No ritual, perdeu-se toda a serenidade,
e atiramo-nos então em orgias intermináveis.

A espada é de carne, e assim é doce.
Mas corta,
afiada e exata,
imensos rios de sangue, de vida.

Não há cicratizes para se esquecer...

terça-feira, 2 de agosto de 2011

A BOCA (OU DA BELEZA SINGELA DE UM LÁBIO DE MULHER)

I

É das partes a mais erótica,
e das imagens a mais sensual.
No tato é a mais sensível,
porque
é a parte mais vermelha,
a que mais se expõe,
já que é meio único de comunicação
(confiável).

Ainda que nada seja, que falte,
e que o que seja seja branco.
Na falta, é a delicadeza,
porque
só a falta nunca ofende:
- ela não existe.
... e a alvura corrosiva das palavras ressoa
(no marfim).

Mas, mesmo que de marfim seja,
duro, e afiado – espada – é lustrada.
Na aspereza, tem sua força,
porque
só com força se aguenta
alguma verdade:
talvez com desespero, talvez com poesia
(desesperada).