domingo, 9 de dezembro de 2012

Presságio


Deixaram na porta de casa um vasinho de flores, bem pequenino.
Imaginei uma fábula, estória, em que uma criança é abandonada em um cesto.
Se eu fosse apenas religioso acharia um anúncio da boa vida que virá
Como poeta e pai, conheço o fantástico que mora nos brotos e nos sonhos

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Mundo, dias antes do primeiro ultrasom de Nathalia


A imagem do meu filho
no aparelho de ultrasom
(que eu ainda não vi)
arrebata já de véspera
milagre, revelação,
prenúncio que resgata
a história do Universo
e algo mais que isso.

sábado, 4 de agosto de 2012

A realidade, a construção da realidade e a comunicação de massa


Dois eventos mostram como hoje em dia os meios de comunicação exercem enorme influência em nossa vida cotidiana. A cobertura dos jogos olímpicos pela Record, e não pela Rede Globo, emissora de maior audiência no país, diminuiu a exposição do evento ao público em geral, com menos gente assistindo, menos conversa sobre o assunto, menos expectativa e torcida envolvida. Era comum ouvir as pessoas falando “é como se não estivesse acontecendo as olimpíadas” ou mesmo “É mesmo? Já começou?”.

O outro acontecimento que tem sua percepção pelo publico determinantemente influenciado pelos meios de comunicação de massa é a eleição. A campanha já começou há mais de um mês, mas ainda não é assunto de conversa de boteco ou de fila de banco, como se ainda não tivesse começado. Em certa medida o primeiro debate eleitoral é um ponto de divisão, momento onde ocorre uma primeira exposição maciça, específica e estendida entre os candidatos; outro ponto é o início da campanha de TV, quando o grau de exposição cresce enormemente.

São reveladores da força dos meios de comunicação de massas, capazes agora de alterar o estatuto de realidade das “coisas” do mundo, quer dizer, de fazer certas coisas parecerem mais ou menos reais aos olhos das pessoas. Os meios de comunicação em massa, e a TV em especial, determinam as informações que a população terá acesso sobre as coisas e os eventos do mundo, ditando assuntos e opiniões. Funcionam, de certo modo, como uma espécie de lente ou de filtro da realidade.

Peter Berger e Thomas Luckmann escreveram um famoso livro de sociologia do conhecimento1 onde afirmam que “a realidade é construída socialmente”. Isso, claro, em um sentido específico para a palavra “realidade”: para o sociólogo, aquilo que é percebido como real, que exerce influência prática na vida das pessoas, independente da validade “absoluta”. Assim, “O homem de rua habita um mundo que é 'real' para ele, embora em graus diferentes, e 'conhece', com graus variáveis de certeza, que esse mundo possui tais ou quais características” (p. 11).

A manipulação midiática tem impactos mais profundos do que aparece a primeira vista. Mais do que agenda e opiniões, constrói algo como uma realidade paralela, onde determinados assuntos são acentuados e outros apagados da cobertura, disputando a “visão de mundo” da sociedade. Tamanho controle deve ser combatido pelos cidadãos de bem, ciosos de sua própria realidade. Oxalá a internet, realidade virtual, siga ajudando na briga desse mundo aqui, do hardware e da luta de classes.

1BERGER, Peter L & LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade. Petrópolis, Editora Vozes, 1973.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Engasgado


Escrevo porque tenho algo entalado
entre o pé e o coração, perto da alma
que não posso nem quero segurar
cujas conseqüências desconheço
e espero como um filho ou um cometa.


Tem um cheiro que parece um doce
e o peso do mais leve dos planetas
dobrando o espaço, gravidade,
na forma de um perfeito origami
inexato como uma taça de champanhe.


Esculpo palavras na lama
ressoando como arrotos de anjos
sempre que algo transborda
córrego de periferia inundada
paixão adolescente desencontrada.


Espero que alguém
ouça o trovão de meus pensamentos
como quem dorme na praia
espreitando a força do mar
abençoado pelo milagre amarelo da areia.


Então deverá,
Esboçar leve sorriso ao final da leitura
Talvez, até mesmo releia ou indique a um amigo
estranhamente comovido,
criança que vê o mar pela primeira vez

quarta-feira, 23 de maio de 2012

COMUNISTAS CONFUSOS

Para Jorge Almeida e Ivan Valente

Comunistas confusos se despedem
As armas se esbarram, úmidas de lágrimas, de sangue
O barulho é desagradável
Como quem busca ofender uma criança, um rio calmo
Anos dividindo trincheiras
Permitem solenes apertos de mão, ecos do coração
Conversas atravessadas
Estraçalharam fios de solidariedade e cristais de confiança
Comunistas confusos sabem que
revolução é paixão e razão, em boa parte cacofonia
E que se perdendo encontraremos novos caminhos
Pois a luta é uma só. E venceremos juntos.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

POLÍTICA DE TRANSPORTES


Manifestação
contra o caos no transporte em São Paulo
Interrompida
Pelo barulho
do helicóptero do dono do banco Safra

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Naufrágio


Brilhava indiferente sob as vagas
esdrúxulo corpo oscilando na baixa maré
impossível e náufraga embarcação
cheia de mistérios, como uma lenda, uma dama
um objeto de utilidade desconhecida

Que desígnio do destino atirou-lhe em tal praia, deserta que Crusoé?
Partiu-se e afundou? Sobreviveram seus tripulantes?
Alguma gaivota observou seu ocaso?

Significa algo o brilho do sol contra a aresta
do casco arrombado do convés?
Ou é apenas o poeta que busca, perdido, mais que desertos, amigo Crusoé,
na imensa ilha da vida?