Mastigo lentamente palavras que misturo com vidro
Ruminando uma massa disforme de sangue e ódio
Que cuspo sobre flores e amores
Incapaz de resposta outra à solidão das coisas e miséria do
mundo
Agrido atendentes, amigos, paixões e desconhecidos
Com precisão de punhal e força de um viking que se afoga
Mas a ferida maior é sempre em mim que dói
A ferida enorme e incurável da impotência
Não sou Raskholnikov, nem sofro do fígado
Ataco de forma racional, científica, só para sentir algo
mais
A raiva com que me responde, então, confirma minha
existência
Esvazia meu ser de angústias e me liberta de mim mesmo
A sinceridade do amor sem convenções agride:
Dor da criança nascendo, que ilumina toda existência.