Sorriem os cães, para a carniça que chora
(ditado popular do Laos)
Gritei por José Faustino em humilde casa no difícil Jardim
Keralux. Atendeu uma senhora que botou a cabeça na janela e, quando eu disse ser
do fórum, prontamente dirigiu-se para a porta e veio, em uma postura serena, com a
suave curiosidade de quem tem um estranho batendo em sua porta. Uma pequena
ansiedade e nervosismo, entremeado pelo sorriso cortês que manda o decoro,
típico da surpresa, de algum objeto escondido que irá se revelar.
- Seu Faustino, José Faustino, é aqui?
Disse que não era, mas de modo incerto, meio inseguro, meio
seco. Esboçou um leve sorriso, e desconfiei do possível sinal de mentira.
Perguntei seu nome, tudo bem? e disse bom dia. Insisti:
- Ele mora aqui, ou morava? A senhora conhece ele?
- O que aconteceu?
- Sou do fórum, preciso entregar um documento pra ele, de um
processo.
- Como assim? Posso ver esse papel? O que que é?
- É pra ele. A senhora conhece? É um processo da fulana contra
ele...
- Ele não mora mais aqui. Ela sabe disso. Porque que ela
coloca o endereço aqui de casa, se ela sabe que ele não mora mais aqui? Quem
deu esse endereço? Eu não tenho mais nada a ver com isso.
- Mas a senhora conhece ou não ele? Não é nada não, é só uma
dívida, cobrança na justiça.
Aproximou-se do portão, apoiou na grade, olhou nos meus olhos e disse, calmamente, com um tranquilo sorriso no rosto, o mesmo sorriso que estava impregnado em seu rosto quando abriu a porta, quando disse não conhecê-lo. Um sorriso que era um alento e uma armadura:
- É um filho da puta, um desgraçado. Morou aqui um tempo,
estuprou minhas filhas e acabou com a minha vida... (pausa angustiante) O
senhor quer deixar alguma coisa aqui, quer que eu assine algo?
Disse, e não parou de sorrir um instante, enquanto me
mandava embora com Deus.