domingo, 5 de março de 2017

O LADRÃO E OS ASSASSINOS

500 mil no bloco dá Daniela Mercury. Na Augusta o refugo. Saio de casa e vejo a confusão, correm atrás de um adolescente negro. Encurralam ele junto a grade de casa, querem bater, querem arrastar, e ele se agarra com toda força. Entro no meio dos marmanjos, empurro e grito.

São ambulantes que alegam ser ladrão, que aquele rapaz e outros tinham roubado o carnaval todo e agredido outros vendedores. Só grito: não vai matar o moleque, chama a polícia. No meio dos agressores percebo um playboy que estava passando e ficou interessado em linchar ladrão.

Pedrinho assustado no portão, falo pra Nathalia ligar 190 e segurar ele. Dois ou três deles se voltam pra mim, me acusando de passar pano pra ladrão. Insisto, firme, em chamar a polícia, ameaçando os agressores. Um deles se volta pra mim pra me intimidar, me peitando agressivamente. Me afasto, com algum medo e vejo Nathalia dizer pra eles: olha a criança, tá assustando o menino.

Olho para o Pedro e ele está chorando. Insisto para Nathalia chamar a polícia e cuidar dele. Graças à intervenção dela o que brigava comigo se acalma. Falo com ele que não pode matar. O playboy fala que não adianta chamar a polícia. Um outro segue gritando que eu estava passando pano pra ladrão. Mas agora já nos falávamos, aos gritos, sobre justiça e justiçamento, ninguém mais tentava bater em ninguém. Pedro está pra dentro e o que me intimidou agora pede desculpas para a Nathalia.

Quando conseguem desgrudar o adolescente da grade, tentar arrastar ele para outro lugar. Na hora vejo a polícia descendo a rua e me dirijo a eles. Falo, acelerado, que estão para linchar o moleque. O PM me retruca, perguntando se eu sei o motivo, como quem diz para não defender bandido. Respondo decidido: pegaram porque é ladrão, mas não tem lei? Vão matar o moleque! Pra que existe polícia, juiz?

Os policiais chegam e a situação acalma. Os agressores, como se estivessem certos, saem andando, nem precisam ser liberados, e o rapaz é detido, “para averiguação”. Ora, independente que tenha feito, naquele momento era vítima, mas preto que era não foi tratado assim. Ainda falei com os policiais, que insistiram na tese da defesa do bandido, me perguntando: e se fosse com o senhor? Nem digo ao policial, negro como o menino, o absurdo da situação, mas me acalmo quando dizem: não é santinho, mas tá aqui inteiro, pode ir tranquilo.

Na confusão, Nathalia trancou o Pedro para dentro e nos acalmamos falando pra ele procurar a chave na bolsa da mãe, tarefa em geral inglória. Quando saem, coloco os dois no táxi, ainda meio confuso com tudo que aconteceu. Ligo para ela depois e ela me conta que ele nos agradeceu porque não deixamos o adolescente apanhar.