quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Agrido

Mastigo lentamente palavras que misturo com vidro
Ruminando uma massa disforme de sangue e ódio
Que cuspo sobre flores e amores
Incapaz de resposta outra à solidão das coisas e miséria do mundo

Agrido atendentes, amigos, paixões e desconhecidos
Com precisão de punhal e força de um viking que se afoga
Mas a ferida maior é sempre em mim que dói
A ferida enorme e incurável da impotência

Não sou Raskholnikov, nem sofro do fígado
Ataco de forma racional, científica, só para sentir algo mais
A raiva com que me responde, então, confirma minha existência
Esvazia meu ser de angústias e me liberta de mim mesmo

A sinceridade do amor sem convenções agride:

Dor da criança nascendo, que ilumina toda existência.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Dentista

Tive um problema com um dos dentes e ele quebrou, em dois momentos, ficando só com uma pontinha pendurada. Fui  a um dentista, emergência, e uma mocinha me atendeu, observando que a dor que eu sentia quando fechava a boca era resultado da pressão que a pontinha solta fazia contra a gengiva, por dentro. Sugeriu, como solução provisória, arrancar a pequena e incômoda lasca. Aí já tive um pressentimento do que estaria por vir, quando ela valeu-se de um alicate para extrair, abruptamente, o pedaço saliente, após uma rápida anestesia. Impressionou-me, confesso, a praticidade sem rodeios com a qual tratou meu doloroso trauma bucal. Marquei o retorno para dois dias depois.

Aquele consultório de pareceu, então, transformar-se em uma espécie de máquina do tempo, conforme o tratamento prosseguia. De início, pareceu-me que oferecia-me avançar na história, realizando um tratamento altamente tecnológico, obra prima da bioengenharia, com o implante de um pino de um metal nobre, titânio (ou seria adamantium?), em um procedimento simples e indolor. E que antes seria preciso, apenas, extrair a parte que restou do dente, basicamente a raiz, sem a parte de cima, a coroa do dente.

O consultório, asséptico, tinha ares modernos, com detalhes estilizados nas paredes e equipamentos modernos nos consultórios. Uma enfermeira pediu pra eu bochechar um treco, "sem enxaguar depois, tá?". Colocou uma touca na minha cabeça e algo parecido com a touca de cabelo no meu sapato (na verdade, eu estava de chinelo e o resultado ficou meio estranho). E então entrei na sala do dentista, um cara meio gordinho e loiro, parecido com o ator do filme "Capote". Um cara grande, registre-se, que realizaria ambos procedimentos, a extração e o implante.

Sentando na cadeira, contudo, a máquina do tempo retornou velozmente ao passado, e eu nem percebi.
Colocou um "campo" sobre mim, um pano com um furo, que delimita o espaço de trabalho do médico, ao mesmo tempo em que tampa a visão do paciente. Postou-se de um lado e pediu para uma enfermeira ficar do outro, com um sugador nas mãos e servindo também como instrumentadora. E observou que, como o dente em questão havia sido submetido a um tratamento de canal, ele "morreu", e estava calcificando-se no osso da mandíbula, o que poderia dificultar um pouco a extração. Deu-me algumas agulhada de anestesia, e pediu que eu abrisse "bem grande" a boca.

Pela fresta do campo pude ver que a primeira ferramenta que ele usou parecia uma chave de fenda, das grandes. Passou a fazer pressão sobre o dente, ao que parece procurando soltá-lo de sua base, e encontrou alguma dificuldade. Daí em diante o quadro só piora.

Pisou em um pedal e ergueu o encosto da cadeira, colocando-me quase sentado, e começou a fazer uma força crescente, agora usando duas daquelas "chaves de fenda". De fato, não doeu quase nada, a não ser em alguns pequenos pontos, de  forma discreta, e então mais anestesia era dada. Nesse momento já fiquei preocupado, e percebia-me um pouco tenso, e decidi colocar o braço para fora, a postos para ser levantando denunciando alguma dor mais forte. Meu primeiro susto, que é a confirmação do receio, aconteceu com o primeiro estalo que ouvi, quando percebi um solavanco com as chaves de fenda. Para ampliar o desconforto, não enxergava tudo o que estava acontecendo, e ficava meio fragilizado nessa condição de desconhecimento. Levantei a mão e perguntou-me se era "dor ou pressão".

Meu desconforto aumentou bastante quando depois de muito forçar a base (e minha gengiva), trocou de ferramenta, segurando então uma espécie de alicate de bico fino, com um vigoroso cabo serrilhado de aço inoxidável, e segurou uma saliência. Pensei que puxaria, apoiando-se nessa pegada, mas em pouco outros estalos, quando percebi estilhaços em minha boca. Percebi então uma tensão por todo o corpo, que retesava meus punhos e pernas. A enfermeira seguia frenética com seu sugador, e o dentista mudava de posição como quem procura um ponto de apoio melhor para fazer força.

A ideia era ir forçando para os lados, laceando a base, e o dentista ia alternando as ferramentas, entre o par de chaves de fenda, e às vezes uma ou outra chave era usada -isoladamente, e o alicate. Arrancar aquele dente parecia estar sendo mais difícil do que esperava-se, e essa percepção, mais difusa, alardeava-me intimamente. E passei a perceber que a gengiva, no local da intervenção, estava machucada, com bastante sangue. Conforme agonia se prolongava, minhas pernas iam se retorcendo, e meus braços apertavam os braços da cadeira com força.

Alguns estalos a mais, e o dentista pediu para a enfermeira um "fórceps 65 ou 69, para raiz". Ela procurou, não achou e pediu para outra enfermeira que procurasse com um colega. Nesse momento o dentista deu uma parada e disse que eu poderia descansar um pouco, e comentou "tá difícil mesmo tirar essa raiz. quando faz canal é assim...". Perguntei, já querendo ver logo o fim daquilo, se estávamos perto do fim. "40%".

Seguiu tentando lacear o dente, e puxar, quando veio com outra tentativa, qual seja quebrar partes do dente usando a broca. Aí fiquei realmente incomodado, e percebi que me retorcia na cadeira, enquanto notava um cheiro de queimado saindo de minha boca.

Nesse momento, minha própria disposição já tinha mudado. Não mais queria "só não passar dor". Queria mesmo que aquilo acabasse logo. Pensava em coisas como "será que sobreviveria à tortura?" e "nunca mais deixo de cuidar de meus dentes". Escorregava da cadeira e estava todo tenso, às vezes grunhindo de paúra. Não mais me importava com a crescente pressão sobre meus dentes e gengiva, com o buraco vertendo sangue na minha boca, com o cheiro de queimado, com a enfermeira maníaca do sugador, só queria que aquilo acabasse.

Foi quando, mesmo causando um pouco de dor, o dentista forçou e o dente finalmente cedeu, em um estalo um pouco mais acentuado. Pegou o fórceps e ainda precisou fazer alguma força para conseguir extrair essa primeira metade. Ato contínuo, forçou um pouco mais o segundo lado, já meio sem paciência, e esta logo cedeu, também estalando em um pequeno tranco, sendo finalmente retirado para meu alívio. Tive vontade de chorar, não de dor, mas pela violência cometida.

***

Para acabar, o implante. Depois de um breve descanso, com a boca latejando, mesmo anestesiada, e com o sangue vertendo (enquanto a enfermeira sugava a saliva e o sangue, insistentemente, obssessivamente), iniciou-se o implante, aproveitando a  "abertura" que havia.

Usou o motor convencional, esse de obturação, que aliás já tinha usado para quebrar o dente, adaptando uma broca em sua ponta, não fininha com aquela pontinha redonda, mas uma broca mesmo, certamente de um pequeno calibre, mas imaginei enxergar até os sulcos helicoidais típicos de brocas de madeira ou concreto. Ajustou minha posição na cadeira, e disse, testando a broca ao alcance de meus olhos, "agora será mais tranquilo".

Furou minha mandíbula e colocou um pino de metal no buraco, rosqueando.

Deu cinco pontos no buraco de minha gengiva.

Quando saí de lá senti uma tristeza profunda que demorou mais a passar do que minha dor. Pensei que poucas coisas podiam ser mais bárbaras do que descrever essa intervenção.

terça-feira, 21 de maio de 2013


Atendente brasileiro explica cardápio
Ao indiano curioso e acobreado. 
Restaurante de comida típica na Augusta
Em orquestrado desencontro global.

quarta-feira, 24 de abril de 2013


Poesia é água que estraçalha
barragens, ressacas, economias periféricas
Escorre no furo, no gargalo e na hemorragia
Mata a sede e afoga
Mágoas, náufragos, Jimi Hendrix

Prova que falar é fácil, dizer é difícil
Prova comidas exóticas, sexo bizarro
Prova, quântico, que não há provas
E muitas coisas mais, irrisórias e fantásticas
Pentelhos, filosofia, a genética e o Corinthians

Um físico falando do Big Bang a um padre
Um carola rezando pela alma de um bárbaro
Aquilo que não cabe nas palavras
Nem na cesta, no pote ou no útero
Mas dizemos mesmo assim

sábado, 13 de abril de 2013

Presságio II


Um vasinho, com flores pequenas
abandonado, entregue no meu jardim
Faz lembrar uma estória, uma fábula
Moisés, Rômulo e Remo
um fato especial, uma nova vida

Criança maior que o mundo
Foi profeta e general, foi renascimento
Anúncio de boa vida e apocalipse
revelação para o crente e libertação
Agora adquire consistência material, na barriga

Para o poeta e para o pai,
 surpresa, evento cósmico, amor mesmo
o fantástico, dos brotos e dos sonhos
Abandonado, entregue no meu jardim
um vasinho, com flores pequenas.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

NOTA SOBRE NOTÍCIA DE JORNAL


Dona Etelvina saiu de casa e avistou
belas pétalas em uma área proibida
separada para obra de demolição
Morreu, desavisada e gentil
atingiu-a o botão de flor
junto do bloco de concreto.

(Baseado em fatos reais)

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

GUERILLA RELOAD

Ativou o dispositivo de interferência pelo telefone celular ao mesmo tempo em que a iluminação da Avenida Paulista foi desligada pela equipe de apoio. A ameaça de bomba no metrô serviu para distrair a polícia enquanto sete membros da Legião passavam pelas câmeras desligadas da portaria da TV em direção às antenas da emissora. Convocariam a população para tomar de volta tudo aquilo que foi comprado pela Corporação, principalmente a própria vida.

Depois da privatização das policias locais virar moda entre os administradores ultra liberais, os próprios exércitos nacionais passaram a ser geridos por empresas privadas. Uma vez que controlou esse ramo de negócios, a Corporação aumentou sua ambição e promoveu golpe bem sucedido, primeiro nos Estados Unidos. Seguindo o efeito de demonstração, outros países viraram regiões dominados por empresas privadas.

"Nada nos deixa com medo", disse Kilma para o pequeno grupo tático reunido em frente ao edifício da emissora universal de sinais, "porque para nós só existe o futuro". Foi escolhida para liderar essa ação porque sempre arruma um jeito de sair das confusões e porque achavam que ela ficaria bem na TV. Era loira, alta, de grossos dreds na cabeça, com alguns implantes luminosos no contorno do rosto e olhos embranquecidos, ou seja, além de bela transparecia força e vontade, fundamental para manter audiência.

Kilma era filha de pais outrora ricos que perderam tudo que tinham já no início da grande crise econômica que pôs fim ao liberalismo. Quando veio a guerra não tiveram muitas condições para resistir e ela assistiu seus últimos parentes serem vítimas da grande seca que veio logo após a bancarrota dos americanos. Comandava a equipe de infiltração depois de quatro anos na clandestinidade imposta pelo golpe militar com o qual a Corporação assumiu o poder.

A equipe de infiltração contava com dois batedores, responsáveis pela proteção do grupo, mais um virtualista, que comandava a parte informacional e técnica da missão e um destravador, que abria todos os portões, senhas e códigos que encontrava. Esse agrupamento era responsável pela defesa e pela viabilização da passagem até o objetivo. Além desses quatro, mais um visualizador, que fazia a cobertura do fluxo informacional do entorno e um especialista próprio para cada missão (nesse caso, um especialista em multimídia de propagação viral), além de Kilma.

Levavam armas (não letais) modernas, mas que não se comparavam com o poder de fogo (letal) das "equipes de dissuasão" da Corporação. Os quatro da contenção traziam um armamento mais pesado, com granadas de paralisação e um grande canhão de luz sólida, além de disruptores sônicos e alarmes de presença ligados a lançadores de adesivo ultra forte. Todos os outros tinham um fuzil sônico e uma pistola de transmissão elétrica, armas leves e eficazes, pois não obstante a demora na recarga da primeira e a falta de precisão da segunda funcionavam bem em conjunto, em geral com tiros elétricos difusos enquanto se aguarda o diapasão do rifle sônico encher, o que certamente irá "desligar" o cérebro do inimigo.

Os disruptores neurais (ou sônicos) eram uma das armas preferidas dos rebeldes, pela sua precisão e eficiência, além do fato de não serem letais. Disparavam uma onda sonora subsônica, que atingia vários alvos simultaneamente, “desligando” temporariamente o sistema nervoso central. Seu único defeito era que, a cada dez tiros curtos ou três longos, a arma precisava de um período de recarga.

O primeiro andar é um grande hall de formato quadrado, com quatro portas de entrada, de pé direito bastante alto, ladeado por inúmeras colunas retangulares, estreitas e cumpridas. Nas laterais, entre uma coluna e outra tem um elevador, somando mais de trinta elevadores de cada lado do hall. No fundo um grande balcão, que tomava quase toda a extensão do fundo da sala, e de cada lado desse balcão uma porta que leva à área de trabalho do prédio, com algumas salas e escritório e uma saída para a escada de incêndio.

Os dois da contenção assumiram seus postos em cada uma das portas de entrada da ponta, plantando um escudo elétrico em cada uma das portas, além de espalharem algumas armadilhas pelo caminho. Os outros dois que ficariam no pátio, o virtualista e o destravador, postaram-se junto dos escudos e armaram o canhão de luz (arma que gera um campo sólido de fótons que atinge o inimigo na velocidade da luz) no modo automático, e depois seus disruptores sônicos.

A primeira dupla pretendia conseguir o mínimo de proteção para poderem os segundos começar um tiroteio com as granadas de paralisação e rajadas de plasma refletido. Com esse barulho todo, um pouco de sorte e a costumeira incompetência das forças oficiais, poderiam conectar todos os membros nas redes internas e abrir as passagens necessárias para que a missão pudesse completar-se.

Os demais adiantavam-se em direção à porta do fundo do lado esquerdo, que daria acesso em sua respectiva área de serviço à uma sala da segurança com conexão aos sistemas de segurança. O plano era trocar para elevadores determinados em andares sortidos, acima e abaixo, estando todos os demais elevadores indo para andares aleatórios. Isso em uma torre com 60 elevadores e mais de cem andares confunde bastante se não se pode rastrear os elevadores.

Os crachás falsos serviram para passar pela portaria, mas logo os disruptores sônicos tiveram que ser usados para derrubar os guardas que se mantinham fiéis à Corporação. Em um momento de leve distração quase foi atingida por uma rajada de projéteis perfurantes, quando percebeu de relance sua  imagem refletida no capacete do policial caído no caminho. Aos olhos do policial, foi como um anjo da morte encarnado em uma beldade de dreds loiros, olhos azuis, que corria em direção às escadas enquanto aguardava sua arma recarregar.

Do outro lado da avenida, um pouco mais à frente do Parque Trianon, uma pequena multidão se reunia, rezando de forma frenética pela alma dos animais mortos em experimentos científicos ou usados como batedores em guerras tribais. Vestidos todos de branco e com os rostos tatuados, mantinham as tradições de auto imolação e amputação, mesmo proibidas pelo governo da Corporação. Aliás, o que não era proibido pela Corporação? Alekei pensava enquanto via os religiosos correndo da repressão enquanto alguns eram destroçados pelas rajadas magnéticas da polícia.

Os membros da equipe de Kilma sabiam que morreriam assim que a Corporação despachasse o armamento pesado e enfrentaram bravamente os planadores de assalto com seus mísseis de atomização e a equipe de ajustamento de conduta com suas carabinas de plasma. Os sacerdotes e convertidos da Igreja ecológica da revelação digital também sabiam que seriam igualmente reprimidos e chacinados, ainda com mais vigor do que agora. Mesmo os milhares de pessoas que só estavam passando por ali estavam todas com muito medo da Corporação.

Assim que as equipes sociais se aproximaram do prédio o cântico dos sacerdotes virtuais se avolumou, tensos de terror. Foi em um misto de êxtase religioso, entre cantos e imolações, e a proximidade do massacre do outro lado da rua, que um sacerdote, outrora Baalaor, percebeu o que estava para acontecer. Pode assistir, bem próximo, o primeiro disparo de projéteis de urânio, perfurantes e radioativos, descrevendo um arco luminoso até arrebentarem em luz, som e violência, destroçando a parede do prédio.

O visualizador deu o aviso da aproximação das equipes de dissuasão que começaram a estalar como estrelas em sua tela e correu para a janela. Começou a disparar do vigésimo quarto andar, acertando as primeiras bombas neurológicas no meio da infantaria que avançava protegida pelos blindados. O virtualista então conseguiu concluir a conexão, destravou as portas do caminho de Kilma e acessou os controles dos veículos blindados para convencimento  em massa travando seus sistemas de propulsão aérea, atrasando sua chegada e evitando o combate direto contra eles. De cada ponta da sala os batedores disparavam seus canhões derrubando soldados e veículos aéreos leves. Esperavam que esse barulho todo conseguisse permitir que o virtualista viabilizasse a chegada de Kilma e o especialista na torre, para divulgarem a palavra em missão de marketing ideológico.

Depois de derrubarem os dois batedores com tiros de canhões de plasma, derretendo-os, lançaram cargas eletromagnéticas que desestabilizaram o virtualista e o visualizador, tornando-os alvos fáceis de abater no avanço dos agentes de ordem e controle com suas carabinas biológicas. O prédio já estava, nesse momento, cercado de forças de controle social. O destravador caiu poucos segundos depois dos quatro primeiros, tão logo abriu a grande porta de íons que protegia a aérea alvo.

Na rua, aquele que foi Baalaor é atingido nas costas mas pouco se importa, pois aquele ferimento era, para ele, como um sinal da revelação de seu destino. Quando a equipe de assalto invadiu o prédio, outro grupo de agentes de controle social avançou para abrir um perímetro de segurança, derrubando os transeuntes e também a reunião dos sacerdotes virtuais. Junto com a elevação dos cânticos que os sacerdotes dedicavam aos circuitos binários primários foi que Alekei, que passava na rua naquele momento, cidadão paulistano, devidamente registrado e marcado com seu código exclusivo de acompanhamento individual, teve que começar a correr para se defender naquela confusão. 

Alekei pode ouvir reverberar o ar com a mensagem que Kilma fez correr pelos ares e redes, instantes antes dela estourar a própria cabeça ao ver que seria irreparavelmente presa. Se fosse presa seria então, como todos os prisioneiros violentos, propriedade da Corporação, e seria retalhada para testes medicinais e científicos após horas de tortura. Preferiu, quando percebeu os sacerdotes de alguma forma envolvidos naqueles eventos, sacrificar seu corpo à divindade digital para preservar seu profile.

A mensagem falava da Fênix, de queimar para expurgar os males, era a mensagem de Kilma, amor e genocídio como valor e método. Os sacerdotes avançaram sacando armas brancas de reverberação, usando seus implantes biônicos de força para esmagar seus alvos, os agentes de controle, saltando para dentro dos planadores, entrando no metrô, derrubando os guardas e entoando orações contra o domínio da Corporação. Alekei sentiu muito medo e, mesmo assim, entrou no prédio, no movimento.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

DECIFRA-ME OU DEVORO-TE


Perdemo-nos na estrada mas encontraremos nossos caminhos. Estrada de terra, carros atolados, discussões complexas. Caminhada com o povo, perigosas curvas, veredas vivas. Pensamentos de quina, sinuca em uma mesa esburacada como a periferia da Zona Leste de São Paulo. Estratégias, algoritmos, mapas - o mundo não é cartesiano, e a verdade está no movimento, no rio que corre, na criança que nasce, na humanidade que merece justiça e paz. A caminhada do exemplo, companheiro de armas, sonhos e amores, nos levará adiante, tanto mais longe quanto mais gente, até sermos todos e ser tudo nosso. E se não for a gente toma!

(por ocasião da reunião de planejamento do mandato democrático e popular Toninho Vespoli vereador)