A morte é a melhor pergunta de todas. Negatio, diz Descartes, est determinatio. É por conta da morte que procuramos um sentido para a vida. Não me atrevo a dar sugestões, mas sei que está pensando nesse sentido agora. De minha parte, fico com Guimarães, a verdade está na travessia. Alguns procedimentos são essenciais, claro, como tentar a felicidade, a saúde, o bem-estar do próximo. Liberdade também é bom, e contém perseverança e convicção, quase coragem. Honra é de Deus, não é de homem. De homem é a coragem!...
Ocorre que minha vó, Dona Camélia Vitelli de Oliveira, 96, faleceu. Não conheço os detalhes de sua biografia. Era mãe de meu pai e nasceu no Brasil, fillha de pais italianos recém migrados – sua irmã, um pouco mais velha que ela, nasceu (ao que me consta) ainda no navio – e casou cedo com João Azevedo, com quem teve dois filhos, meu pai Décio e minha tia Júnia – a maior fortaleza que já se viu, na forma terna de cuidado, compreensão e amor. Formou-se advogada, grande orgulho, e trabalhou por longa data no Instituto Adolpho Lutz, além de ter lecionado música, se não me engano inclusive em um conservatório. Fumou até os 90 anos, brigou por suas opiniões e, mesmo diabética, comeu sempre o que quis.
Era uma pessoa culta e avançada para sua época, gostava de literatura e se mantinha sempre informada sobre o mundo. Apresentou-me o decoro das artes liberais e o refinamento do paladar. Também apreciava jogar baralho (buraco) e acumulou vitórias sobre os netos. Ensinou-me a ler partitura e a ter mais intimidade com o jornal, ensinou-me a conviver com livros e ter uma biblioteca. Sobretudo ensinou-me a firmeza de caráter e a força da convicção. Mostrou que isso tem a ver com uma vida boa, pois é mister determinação para garantir a validade de nossos desejos, de nossas convicções.
Viveu, pois, como quis – maior de todos os ensinamentos. E morreu, também, quando quis. Aprendamos!
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