quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Ode ao Jornal

Para meu amigo Pedro, o Grande

O tablóide grita a todos das asperezas do mundo
A profusão de gentes tantas e desgraças muitas
Os homens correm
A história explode
quem nos contará, fresco como o pão pela manhã
Inenarráveis antiodes dessa reportagem esfoliante?

As notícias correm
As respostas urgem
Todos os dias, desperto e me abro para o mundo
Esperançoso das soluções todas: temente a Deus
Corro as manchetes
Cotidiano em cinza
Que me escancara, austero, os índices da bolsa e
Os conflitos do Oriente médio Afeganistão Cuba.

Parem todos de correr!
Viu o jornal de hoje?
Explodiu a revolução socialista, em toda a parte
E começamos, todos nós, a escrever com sangue
o jornal nosso de cada dia
humanidade na 1ª página.

4 comentários:

  1. curti teu blog, não conhecia teu lado poeta, massa.

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  2. Posso indicar um post pra ti? Que tal CARTA ABERTA A JOHN ASHBERY do Waly Salomão?
    ...
    A memória é uma ilha de edição - um qualquer
    passante diz, em um estilo nonchalant,
    e imediatamente apaga a tecla e também
    o sentido do que queria dizer.
    ...
    Esgotado o eu, resta o espanto do mundo não ser
    levado junto de roldão.
    Onde e como armazenar a cor de cada instante?
    Que traço reter da translúcida aurora?
    Incinerar o lenho seco das amizades esturricadas?
    O perfume, acaso, daquela rosa desbotada?
    ...
    A vida não é uma tela e jamais adquire
    o significado estrito
    que se deseja imprimir nela.
    Tampouco é uma estória em que cada minúcia
    encerra uma moral.
    Ela é recheada de locais de desova, presuntos,
    liquidações, queimas de arquivos,divisões de capturas,
    apagamentos de trechos, sumiços de originais,
    grupos de extermínios e fotogramas estourados.
    Que importa se as cinzas restam frias
    ou se ainda ardem quentes
    se não é selecionada urna alguma adequada,
    seja grega seja bárbara,
    para depositá-las?
    ...
    Antes que o amanhã desabe aqui,
    ainda hoje será esquecido
    o que traza marca d'água d'hoje.
    ...
    Hienas aguardam na tocaia da moita enquanto
    os cães de fila do tempo fazem um arquipélago
    de fiapos do terno da memória.
    Ilhotas. Imagens em farrapos dos dias findos.
    Numerosas crateras ozonais.
    Os laços de família tornados lapsos.
    Oco e cárie e cava e prótese,
    assim o mundo vai parindo o defunto
    de sua sinopse.
    Sem nenhuma explosão final.
    ...
    Nulla dies sine linea. Nenhum dia sem um traço.
    Um, sem nome e com vontade aguada,
    ergue este lema como uma barragem
    anti-entropia.
    ...
    E os dias sucedem-se e é firmada a intenção
    de transmudar todo veneno e ferrugem
    em pedaço do paraíso. Ou vice-versa.
    Ao prazer do bel-prazer,
    como quem aperta um botão da mesa
    de uma ilha de edição
    e um deus irrompe afinal para resgatar o humano fardo.
    ...
    Corrigindo:
    ......................o humano fado.

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  3. Valeu Marcio! Vou dar uma olhada e publicar. Gosto do estilo dele, erudito mas punk.

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  4. Marcio, fiz um relize ultra rápido nas suas poesias. Cheias de conteúdo envolventes. Gosto mto de declamar, vou preparar umas duas para declamar em ocasiões em que os camaradas se reunirem. Essa do "Corsário, de pé na areia observando o oceano, a praia........... que coisa riquíssima de significado. Sucesso..............vai em frente.

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