terça-feira, 19 de julho de 2011

Testamento de um rato

Todos os adjetivos, juntos, não bastam
para descrever, da metamorfose, a feição,
sem anestesia, sangrada em meu coração,
despedaçado, pela culpa da destituição.

A língua, em outros tempos, lasciva,
corroída, pela pútrida violência, cala,
pois o poeta, conturbado, é que fala
ser indigno de qualquer confiança.

Por isso, rato, mesmo que reproduza,
a forma, asquerosa e medrosa: pêlos
negros e disformes, como o caráter
do que pede clemência, ao esplendor;

rato, contudo, não é metáfora ideal,
pois os pobres animais, além de não
possuírem culpa ou sordidez, guardam,
subterrâneos, o respeito e a nobreza:

Na sua fealdade, parecem com o mal,
os rotos do mundo; no terror, indistinto,
a perseguí-los, são como os famintos.
Ora, de um rato, podemos ter certeza.

3 comentários:

  1. Esse ficou muito bom! Com certeza, metáfora de rato é pouco válida, animal este o mais certezístico da nossa vivência quasi-válida!

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  2. O rato é tão rápido que cão de guarda pisca e ele se foi sem chance, sem vez, sem pista para o fuço grande intrometido...

    Salve, as palavras em som e imagem!
    Abraço

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