sábado, 4 de agosto de 2012

A realidade, a construção da realidade e a comunicação de massa


Dois eventos mostram como hoje em dia os meios de comunicação exercem enorme influência em nossa vida cotidiana. A cobertura dos jogos olímpicos pela Record, e não pela Rede Globo, emissora de maior audiência no país, diminuiu a exposição do evento ao público em geral, com menos gente assistindo, menos conversa sobre o assunto, menos expectativa e torcida envolvida. Era comum ouvir as pessoas falando “é como se não estivesse acontecendo as olimpíadas” ou mesmo “É mesmo? Já começou?”.

O outro acontecimento que tem sua percepção pelo publico determinantemente influenciado pelos meios de comunicação de massa é a eleição. A campanha já começou há mais de um mês, mas ainda não é assunto de conversa de boteco ou de fila de banco, como se ainda não tivesse começado. Em certa medida o primeiro debate eleitoral é um ponto de divisão, momento onde ocorre uma primeira exposição maciça, específica e estendida entre os candidatos; outro ponto é o início da campanha de TV, quando o grau de exposição cresce enormemente.

São reveladores da força dos meios de comunicação de massas, capazes agora de alterar o estatuto de realidade das “coisas” do mundo, quer dizer, de fazer certas coisas parecerem mais ou menos reais aos olhos das pessoas. Os meios de comunicação em massa, e a TV em especial, determinam as informações que a população terá acesso sobre as coisas e os eventos do mundo, ditando assuntos e opiniões. Funcionam, de certo modo, como uma espécie de lente ou de filtro da realidade.

Peter Berger e Thomas Luckmann escreveram um famoso livro de sociologia do conhecimento1 onde afirmam que “a realidade é construída socialmente”. Isso, claro, em um sentido específico para a palavra “realidade”: para o sociólogo, aquilo que é percebido como real, que exerce influência prática na vida das pessoas, independente da validade “absoluta”. Assim, “O homem de rua habita um mundo que é 'real' para ele, embora em graus diferentes, e 'conhece', com graus variáveis de certeza, que esse mundo possui tais ou quais características” (p. 11).

A manipulação midiática tem impactos mais profundos do que aparece a primeira vista. Mais do que agenda e opiniões, constrói algo como uma realidade paralela, onde determinados assuntos são acentuados e outros apagados da cobertura, disputando a “visão de mundo” da sociedade. Tamanho controle deve ser combatido pelos cidadãos de bem, ciosos de sua própria realidade. Oxalá a internet, realidade virtual, siga ajudando na briga desse mundo aqui, do hardware e da luta de classes.

1BERGER, Peter L & LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade. Petrópolis, Editora Vozes, 1973.

Nenhum comentário:

Postar um comentário