Dois eventos mostram
como hoje em dia os meios de comunicação exercem enorme influência
em nossa vida cotidiana. A cobertura dos jogos olímpicos pela
Record, e não pela Rede Globo, emissora de maior audiência no país,
diminuiu a exposição do evento ao público em geral, com menos
gente assistindo, menos conversa sobre o assunto, menos expectativa e
torcida envolvida. Era comum ouvir as pessoas falando “é como se
não estivesse acontecendo as olimpíadas” ou mesmo “É mesmo? Já
começou?”.
O outro acontecimento
que tem sua percepção pelo publico determinantemente influenciado
pelos meios de comunicação de massa é a eleição. A campanha já
começou há mais de um mês, mas ainda não é assunto de conversa
de boteco ou de fila de banco, como se ainda não tivesse começado.
Em certa medida o primeiro debate eleitoral é um ponto de divisão,
momento onde ocorre uma primeira exposição maciça, específica e
estendida entre os candidatos; outro ponto é o início da campanha
de TV, quando o grau de exposição cresce enormemente.
São reveladores da
força dos meios de comunicação de massas, capazes agora de alterar
o estatuto de realidade das “coisas” do mundo, quer dizer, de
fazer certas coisas parecerem mais ou menos reais aos olhos das
pessoas. Os meios de comunicação em massa, e a TV em especial,
determinam as informações que a população terá acesso sobre as
coisas e os eventos do mundo, ditando assuntos e opiniões.
Funcionam, de certo modo, como uma espécie de lente ou de filtro da
realidade.
Peter Berger e Thomas
Luckmann escreveram um famoso livro de sociologia do conhecimento1
onde afirmam que “a realidade é construída socialmente”. Isso,
claro, em um sentido específico para a palavra “realidade”: para
o sociólogo, aquilo que é percebido como real, que exerce
influência prática na vida das pessoas, independente da validade
“absoluta”. Assim, “O homem de rua habita um mundo que é
'real' para ele, embora em graus diferentes, e 'conhece', com graus
variáveis de certeza, que esse mundo possui tais ou quais
características” (p. 11).
A manipulação
midiática tem impactos mais profundos do que aparece a primeira
vista. Mais do que agenda e opiniões, constrói algo como uma
realidade paralela, onde determinados assuntos são acentuados e
outros apagados da cobertura, disputando a “visão de mundo” da
sociedade. Tamanho controle deve ser combatido pelos cidadãos de
bem, ciosos de sua própria realidade. Oxalá a internet, realidade
virtual, siga ajudando na briga desse mundo aqui, do hardware
e da luta de classes.
1BERGER,
Peter L & LUCKMANN, Thomas. A
construção social da realidade.
Petrópolis, Editora Vozes, 1973.
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